Milton Santos, seu sorriso e eu

Créditos da imagem: https://albswiss.wordpress.com

Vivi os últimos anos do segundo milênio como jovem estudante de graduação no curso de História. Caipira do interior, de encantamento assustado e curioso na cidade grande que só via na TV. Uma vez, no Departamento de História e de Geografia da FFLCH, me detive estático diante da vitrine de uma livraria da Edusp que tinha no prédio. Lá dentro estava Milton Santos. Fiquei ali um certo tempo e ele percebeu que estava sendo observado. Eu, olhando para ele com a aquela cara de bobo paralisado. Ele deu risada e eu continuei.
Com o tempo, percebi que toda quarta-feira, logo depois do almoço, o professor Milton Santos ia ao departamento, certamente para conduzir algum laboratório, orientar algum grupo de estudo, penso eu. Eu ficava sentado no banco bem no lugar em que ele passava. Pontualmente, de terno e gravata, calmamente caminhando, o professor se aproximava, olhava para mim, me cumprimentava e sorria. A mesma cena ocorria sempre, todas as vezes: o olhar e o sorriso.
Semana após semana, por longo tempo, eu sentava naquele banco e esperava o Milton Santos passar, até que ele não foi mais...
Recentemente, uma aluna da faculdade em que trabalho me perguntou: "Você nunca falou com ele? Por quê?"
Eu respondi: "Ele me olhava e sorria para mim".
Vejam o breve vídeo que a Academia Brasileira de Ciências produziu em homenagem a Milton Santos.  

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