O dilema de Antígona

  
É lícito desobedecer a lei? Costumes ancestrais prevalecem quando entram em conflito com uma lei aprovada por uma autoridade?

Vejamos como Antígona (nome da peça escrita por Sófocles) responde ao seu tio Creonte, rei de Tebas:

"A tua lei não é a lei dos deuses; apenas o capricho ocasional de um homem. Não acredito que tua proclamação tenha tal força que possa substituir as leis não escritas dos costumes e os estatutos infalíveis dos deuses. Porque essas não são leis de hoje, nem de ontem, mas de todos os tempos: ninguém sabe quando apareceram. Não, eu não iria arriscar o castigo dos deuses para satisfazer o orgulho de um pobre rei. Eu sei que vou morrer, não vou? Mesmo sem teu decreto. E, se morrer antes do tempo, aceito isso como uma vantagem" (Antígona, Sófocles).

O teatro e os mitos gregos são sempre atuais, pois apresentam os grandes dilemas da natureza humana. Longe de querer solucioná-los, os gregos preferiam discuti-los. Afinal, eles sabiam muito bem que para as grandes questões não havia respostas simples.

O mundo polarizado como o nosso, revela mais a infantilidade de nossa sociedade em preferir alguém que lhe forneça certezas (ainda que ocas) a admitir e encarar de frente os dilemas da vida, arcando com as consequências de nossas escolhas. Ninguém escapa. Em algum momento, isso acontece com todos, ainda que em níveis diferenciados.

Parece que para Sófocles, o ponto central não é defender que Antígona é a heroína e Creonte o vilão. No fundo, todos tinham as suas razões para agir da forma como agiram. O mundo não está dividido entre limpinhos e corruptos, entre mocinhos e bandidos. É mais confortável pensar que sempre estou do lado certo (buscando justificativas para me convencer disso) e o outro, sempre está do lado errado.

Talvez, para Sófocles lhe importava mais apresentar até onde uma alma obstinada e cega pode chegar. Os grandes dilemas permanecerão e o desafio é agir sabiamente e menos de maneira insensata. 

Sempre haverá argumentos muito "corretos" para justificar a insensatez.

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