O povo e a ralé em Hannah Arendt

Créditos da imagem: https://www.dhm.de/lemo/biografie/hannah-arendt

A atualidade de Hannah Arendt para a compreensão da sociedade hodierna chega a ser surpreendente. Segundo a autora, o povo e a ralé não podem ser confundidos.

Enquanto o povo, em todas as grandes revoluções, luta por um sistema realmente representativo, a ralé brada sempre pelo “homem forte”, pelo “grande líder” (Origens do Totalitarismo).

Ainda que distintos, são facilmente confundidos, pois a ralé reúne "resíduos de todas as classes", ou seja, não se trata de um nicho social específico ligado ou pela renda, classe social, escolarização, ou pela etnia. A ralé é um "refugo de todas as classes". O que une essas pessoas no conjunto ralé é o ódio à representação política (instituições, congresso, parlamento, partidos) e o ódio à sociedade, pois se sentem excluídas de alguma forma. Sobretudo, a ralé odeia grupos específicos.

Esse ódio à sociedade e à representação política, faz com que a ralé se mova para ações fora da institucionalidade com grande agressividade, sob a justificativa de que há uma conspiração para o domínio do mundo. Quando Hannah Arendt escreveu, ela apontou que o ódio da ralé foi mobilizado contra a conspiração judaica mundial.

Atualmente, ao que tudo indica, grupos de extrema direita (potencializados pelas redes sociais) mobilizam o ódio da ralé e a movimentam contra o que chamam de globalismo comunista, contra a ONU e OMC, contra migrantes e muçulmanos, contra minorias, e finalmente, contra os que querem destruir a família cristã.

É da ralé que surgem líderes políticos autoritários que fazem frente a toda institucionalidade.

Os pessimistas históricos compreenderam a irresponsabilidade fundamental dessa nova camada social, e previram corretamente também a possibilidade de converter-se a democracia num despotismo, cujos tiranos surgiriam da ralé e dependeriam do seu apoio (Origens do Totalitarismo).

Uaauuu! O meu consolo é que a história não se repete somente no que há de mais abjeto e grotesco, mas também se repete no que há de mais sublime e valoroso. No entanto, os que se dedicam a isso aparecem menos.

Para saber mais:

Origens do Totalitarismo - Hannah Arendt

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