Nheengatu, a língua geral brasílica


Créditos da imagem: https://www.jesuitasbrasil.org.br
 
É uma verdadeira proeza que em um país continental como o Brasil se fale uma única língua: o português. Bem, esta frase está errada. Atualmente, existem mais de 250 povos indígenas no Brasil falando mais de 150 línguas diferentes. 
Acredita-se que quando os portugueses chegaram aqui havia mais de mais 800 línguas indígenas diferentes. Para os jesuítas que tinham a missão de evangelizar os povos nativos, essa variedade linguística era um grande problema. 
O padre José de Anchieta criou em 1618 uma gramática e um vocabulário para o nheengatu, palavra que significa "língua boa", ou seja, uma língua que indígenas e portugueses conseguiam compreender.
Daí vem a palavra nhenhenhém (conversa mole) que usamos até hoje. 
Com a sistematização do nheengatu feita por Anchieta, os jesuítas contribuíram para espalhá-lo. A referência para essa sistematização foi o tupi falado pelos tupinambás.
Nesses grande esforço feito pelos jesuítas, os portugueses sofreram enculturação. Segundo a historiadora Marlene Suano, "do ponto de vista da comunicação, pode-se dizer que foram em alguma medida colonizados, acabando por acrescentar a seu vocabulário palavras da língua geral ou língua brasílica, falada por brancos e índios".
É claro que numa visão em retrospectiva essas Missões evangelizadoras foram nocivas para a cultura indígena. No entanto, há de se reconhecer que os jesuítas defenderam os índios contra a exploração dos brancos e promoveram uma evangelização integradora, traduzindo hinos católicos para a língua geral, cantados na mesma toada das músicas indígenas.
O nheengatu ainda é falado no Brasil por tribos que perderam a sua língua original e se recorreram a língua geral para preservar a sua cultura. Além disso, muitas palavras faladas atualmente no português brasileiro tem a sua origem no nheengatu. Algumas delas: bichano, choupana, cuia, cutucar, jacaré, mingau, perereca, peteca, pindaíba, sapecar, socar, tiquinho...

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