E então, me exonerei
Um sentimento estranho de tristeza e de alívio. Tristeza pela consciência do pouco que consegui fazer. Alívio por não suportar mais. Eu me exonerei do cargo de professor efetivo de História do Estado de São Paulo. Na verdade, bem antes do esperado, bem tarde do desejado. Fui até o limite físico e emocional... não dava mais. Não conseguia ser bom nem no Estado, nem na Prefeitura, nem no mestrado, pai pela metade, marido pela metade...
Quando assinava minha exoneração pensei: coisas que foram duramente conquistadas, para serem perdidas bastam poucos segundos... Batalha-se para cursar uma universidade pública. Luta-se para sair bem dela. E, após recebido a melhor formação possível, sente-se estimulado a devolver à sociedade tudo que recebeu mediante dinheiro público. Preparado, passa nas primeiras posições do concurso. Feliz, estimulado, cheio de ideias e de ideais, certo de que pode fazer a diferença... Então, é lançado nas piores condições possíveis de trabalho, em um ambiente onde a mediocridade prolifera e nada funciona. Luta, leva no peito, enfrenta. O que há de jovem não se entrega facilmente. Mas aí, passam-se dias, meses, anos... resultado? Vem o desânimo, o cansaço, a sensação de inutilidade, a perda da saúde e a pergunda: afinal, sou professor? NÃO. SOU APENAS UMA MÃO-DE-OBRA BARATA SUBAPROVEITADA.
Não quero ser professor herói. Quero apenas ser professor. E em 5 anos trabalhando na rede estatual paulista pouquíssimas vezes me senti professor. Na verdade, nem me lembro quando.
Quando assinava minha exoneração pensei: coisas que foram duramente conquistadas, para serem perdidas bastam poucos segundos... Batalha-se para cursar uma universidade pública. Luta-se para sair bem dela. E, após recebido a melhor formação possível, sente-se estimulado a devolver à sociedade tudo que recebeu mediante dinheiro público. Preparado, passa nas primeiras posições do concurso. Feliz, estimulado, cheio de ideias e de ideais, certo de que pode fazer a diferença... Então, é lançado nas piores condições possíveis de trabalho, em um ambiente onde a mediocridade prolifera e nada funciona. Luta, leva no peito, enfrenta. O que há de jovem não se entrega facilmente. Mas aí, passam-se dias, meses, anos... resultado? Vem o desânimo, o cansaço, a sensação de inutilidade, a perda da saúde e a pergunda: afinal, sou professor? NÃO. SOU APENAS UMA MÃO-DE-OBRA BARATA SUBAPROVEITADA.
Não quero ser professor herói. Quero apenas ser professor. E em 5 anos trabalhando na rede estatual paulista pouquíssimas vezes me senti professor. Na verdade, nem me lembro quando.
Comentários
Super abraço.
Também sou professora da rede estadual, na disciplina de Historia, há cinco anos, como vc! Juro que estou caminhando para fazer o que vc fez. Esse ano reduzi ao maximo minha carga horaria e já estou começando a trilhar novos caminhos e, finalmente, sentir essa sensação de alívio que vc está sentindo agora. Digo-lhe com a experiencia de quem conviveu com pessoas que tomaram a mesma atitude que vc: não irás se arrepender. Abraços amigo!
abraços
Coragem...
Com certeza foi a melhor decisão.
Beijos
Mi
Aqui no Rio tem acontecido o mesmo. Dezenas pedem exoneração. Aproveite enquanto é jovem, porque eu estou quase me aposentando na segunda matrícula municipal.
Abraços
Que o seu exemplo seja visto como um sinal de alerta que já está soando há tempos, mas que poucos conseguem ouvir.
Um grande abraço,
Prof_Michel
Muito obrigado a todos pelas por essas sinceras palavras.
Vamos adiante!
Daniel.
A luta continua. Em outras frentes e com novo alento. Estas decisões são difíceis e sofridas, mas fazem parte da vida.
abraço e força !
Suzana
Saia do magistério estadual, mas não abandone o site.Aceite um abraço solidário de uma colega do RJ. Rita.
Mas eu tenho a esperança que exista um professor herói capaz de reverter a situação. Vc é um professor diferente, Daniel, que quer muito mais do que dar a matéria. Se todos os professores fossem iguais a você, quem sabe não conseguiríamos alguma coisa?
È revoltante, mas pelo menos você teve a coragem de cortar o mal e buscar novo sentido pra vida. Leia o livro "Zorba, o grego". Você vai gostar. Tudo de bom pra ti!
Trabalho na rede particular, ensino fundamental e superior, mesmo assim tem momentos que penso que vou enlouquecer com tantos desafios, não trazemos e levamos para sala de aula,idéias e conceitos, reflexões ou construções, vamos além do conhecimento.Trazemos frustações, alegrias, expectativas, problemas sociais e econômicos não só nossos ou de nossos alunos, e sim das famílias.É uma loucura e uma carga muito pesada.
Desejo sucesso nas novas conquistas e que se realize!
Ahhh queria particuipar dealgum grupo de dicussão relacionado a história, conhece algum ?
Caso possa entar em contato, meu e-mail ( daniwcf@hotmail.com).
Desde já agradeço, Daniela Fiúza.
Julianne Rossi
( julianne_rossi@hotail.com)
O C 14 vai continuar!
Te esperamos por aqui em 2010.
bjsss
Suzana
Na verdade, minha intenção não é desestimular ninguém.
O problema é que muitas vezes procuramos maximizar nossas espectativas. E quando se olha o que foi realizado e o que poderia ser feito dá aquela frustração. Mas isso é apenas resultado de uma perspectiva (geralmente, só um aspecto da nossa). Quando se muda a perspectiva, percebe-se outras coisas e já não é tão frustrante.
No entanto, saber a realidade das coisas, ainda que doloroso, é melhor que ignorá-la. E quando alguém decide ser professor sabendo da realidade que isso significa, tem tudo prá ser um professor de verdade (ou não).
Se você se sente chamada a lecionar vá sem medo (ou vá com medo mesmo, mas vá!)
No entanto, há uma verdade que quanto mais cedo você aceitar mais feliz será. Por mais excepcional que você seja, por mais que consiga dar conta do recado, buscando incesantemente dar significado a todos os assuntos do programa de modo que faça sentido para seus alunos, na maioria das vezes, a importância das coisas será apenas pra você. E é preciso aprender a conviver com isso.
Não se aprende a ser professor em faculdade. E para a maioria dos seus alunos, o que você aprendeu até aqui e passou a admirar não terá o menor sentido prá eles. As carências de muitos deles são tantas que tudo aquilo que você poderia dizer sobre Idade Média, certamente, não será o que eles realmente precisam de você.
Haverá muitas incompreenções e desencontros mútuos (seu e deles). Mas, quando acontece o encontro, com um deles apenas, quando você percebe que foi importante e conseguiu ajudá-lo, alegria supera todo o sofrimento anterior.
Um abraço, boa sorte, Daniel.
Aprendi tantas coisas que não sei como expressar minha gratidão. Te felicito pela escolha feita e espero que tudo esteja caminhando conforme você queira.
Feliz 2010, muita saúde para você e sua familia, paz, sabedoria e paciência!
Felicidades
ps.: fico na torcida da continuação do blog :D
Sei perfeitemente que seja lá o que você estiver fazendo agora continuará sendo brilhante, como sempre foi nas aulas.
Muito obrigado por suas palavras, Daniel.
Fiquei muito emocionado ao ler seu comentário. Eu que devo agradecê-la por continuar passando por aqui. Fico muito feliz em ter lhe ajudado de alguma forma. O melhor é que eu nem imagino como. E isso é que deixa tudo melhor ainda. O resto é vaidade.
Um abraço, Daniel.
Bem, parabéns pela sua decisão, com certeza muito bem tomada.
Esse será o meu último ano, mas pretendo sair antes do ano terminar.
Abraços.
Marcelo
Ainda não tinha esse teu post sobre a exoneração.
O qe andas fazendo agora?
abço e tudo de bom
Lilian
Quanto tempo...
Abraços
E por mais dura e por vezes, intragável verdade, que muitos professores burlam na tentativa de proteger esse sonho de educação ideal, a realidade do professor na Escola Pública brasileira é sim por vezes um história de vida que pode ser refletida na sua singela postagem.
Fui um de seus alunos, não me recordo em que ano exatamente, a uns oito provavelmente no colégio estadual Oscar Thompson. Sai que é tardio, mas não foi um trabalho que num todo tenha sido em vão, Fui inspirado por alguns professores que tive em minha vida, inflamado pela ideia de ensinar e de ter parte no mundo, de ter a sensação de que fiz uma minima diferença. Utópico? Talvez, mas foi por ver que algumas pessoas passavam seu conhecimento por prazer e não por um "gigantesco salario" no fim do mês. Obrigado por um dia ter organizado passeios para que a escola conhecesse pontos antigos do centro da cidade e por nos levar ao cemitério da consolação onde fomos apresentados a historia de muitos que ali estão enterrados. Obrigado por ter colaborado em minha vida acadêmica e por se importar em criar um personagem desenhado em lousa para fazer os lembretes e observações da aula. Acredite,, não foi em vão por que ao menos uma alma foi inflamada a ser professor e não sere um professor qualquer. obs: Gostei de ver que o registro do passeio ainda esta no blog, assim foi possível encontra-lo novamente rsrs :)