Podemos dizer que há um certo paralelismo entre as obrigações do senhor com as obrigações do vassalo. Ele também deveria ser fiel e ajudar o vassalo. Assim, o suserano não poderia prejudicar em nada ao seu homem. Quando necessário, também dava ajuda militar ao vassalo, conselho e sustento, que seria a concessão de um feudo (benefício). Esse feudo, geralmente, era uma parte das terras do senhor, mas poderia ser outra forma de sustento como direto de cobrança de pedágios, impostos ou tributos. Um bom senhor era generoso com seus vassalos. Um suserano poderia ser vassalo de outro senhor feudal. Da mesma forma, um vassalo também poderia ser suserano de outra pessoa.
É lícito desobedecer a lei? Costumes ancestrais prevalecem quando entram em conflito com uma lei aprovada por uma autoridade? Vejamos como Antígona (nome da peça escrita por Sófocles) responde ao seu tio Creonte, rei de Tebas: "A tua lei não é a lei dos deuses; apenas o capricho ocasional de um homem. Não acredito que tua proclamação tenha tal força que possa substituir as leis não escritas dos costumes e os estatutos infalíveis dos deuses. Porque essas não são leis de hoje, nem de ontem, mas de todos os tempos: ninguém sabe quando apareceram. Não, eu não iria arriscar o castigo dos deuses para satisfazer o orgulho de um pobre rei. Eu sei que vou morrer, não vou? Mesmo sem teu decreto. E, se morrer antes do tempo, aceito isso como uma vantagem" (Antígona, Sófocles). O teatro e os mitos gregos são sempre atuais, pois apresentam os grandes dilemas da natureza humana. Longe de querer solucioná-los, os gregos preferiam discuti-los. Afinal, eles sabiam muito bem que para as gra...
Créditos da imagem: https://www.dhm.de/lemo/biografie/hannah-arendt A atualidade de Hannah Arendt para a compreensão da sociedade hodierna chega a ser surpreendente. Segundo a autora, o povo e a ralé não podem ser confundidos. Enquanto o povo, em todas as grandes revoluções, luta por um sistema realmente representativo, a ralé brada sempre pelo “homem forte”, pelo “grande líder” (Origens do Totalitarismo). Ainda que distintos, são facilmente confundidos, pois a ralé reúne "resíduos de todas as classes", ou seja, não se trata de um nicho social específico ligado ou pela renda, classe social, escolarização, ou pela etnia. A ralé é um "refugo de todas as classes". O que une essas pessoas no conjunto ralé é o ódio à representação política (instituições, congresso, parlamento, partidos) e o ódio à sociedade, pois se sentem excluídas de alguma forma. Sobretudo, a ralé odeia grupos específicos. Esse ódio à sociedade e à representação política, faz com que a ralé se mova pa...
No final do primeiro século, em meio ao trágico acontecimento da Primeira Guerra Judaica (66-72 d.C.) na qual o exército romano destruiu o Templo de Jerusalém, uma curiosa narrativa sobre a fuga dos cristãos de Jerusalém permanece na fronteira entre a lenda e os fatos. As primeiras comunidades cristãs eram formadas por judeus, chamados pelos especialistas de judeu-cristãos. Na guerra contra os romanos, essas comunidades teriam abandonado Jerusalém migrando-se para Pela (atual Tabaqat Fahl - Jordânia). Ruínas de Pela. Créditos da Imagem: https://universes.art/en/art-destinations/jordan/pella Eusébio de Cesareia relata que os cristãos partiram para Pela pouco antes da guerra começar: Ora, os membros da Igreja de Jerusalém, através de uma profecia proveniente de uma revelação feita aos fiéis mais ilustres da cidade, receberam ordem de deixar a cidade antes da guerra e transferir-se para uma cidade da Pereia, chamada Pela. Para lá fugiram de Jerusalém os fiéis de Cristo, d...
Foi mais ou menos assim. Bem lá longe, em meio ao imenso mar azul, surgiu um pontinho branco que foi crescendo e crescendo… Quanto maior ficava, maior era a movimentação na praia. “O que seria aquilo?”, perguntavam uns aos outros. “De quem poderia ser aquela canoa gigante?” Alguns arriscavam uma resposta: “É a deusa Maíra que veio do mar!” Surpresos, todos permaneciam ali paradinhos com os olhos arregalados! Jamais tinham visto coisa parecida. “Mas, se são mesmo os deuses, o que querem de nós?” Silêncio absoluto. Os portugueses, exaustos e famintos depois da longa viagem, aproximam-se num pequeno barco trazendo no corpo as feridas causadas pelo escorbuto, além do terrível mau cheiro de vários dias sem banho. Os índios, ao verem aquela estranha criatura com panos sobre corpo e pelos no rosto, exclamaram: “Como são feios! Não são deuses, são demônios! Foi assim que Darcy Ribeiro comentou como foi o primeiro contato entre índios e portugueses. Apesar da brincadeira, o antropólo...