A progressão continuada

A idéia possuía um princípio bem honesto na sua origem: apontar o problema de um ensino punitivo calcado na reprovação, que contribuía para aumentar os índices de evasão e que feria a auto-estima do aluno.
Assim, a progressão se afirmava como uma alternativa muito válida e até humana: estender o processo de ensino em ciclos mais longos que permitiam aos alunos atingirem os requisitos básicos necessários para continuar seguindo adiante, mesmo que se, naquele ano, tais objetivos não tivessem sido plenamente atingidos. Então, trocou-se o "você não sabe e por isso vai repetir", pelo "você ainda não sabe, mas vamos trabalhar melhor, retomar suas dificuldades... segue adiante".
Bom, uma boa idéia quando mal aplicada se torna catastrófica. E, em meio a catástrofe, a mesma idéia quando insistentemente mal aplicada, torna-se criminosa. Foi o que aconteceu com a progressão continuada. Ainda que senhora Secretária de Educação Maria Helena Guimarães de Castro diga que a progressão continuada não é um problema e só não deu certo porque o professor não gosta dela, a tragédia na qualidade de ensino é evidente. A questão não é a progressão em si, mas a forma como os sucessivos governos tucanos a aplicaram.
No Brasil se faz educação por decreto, por leis, sem mudanças estruturais significativas. De que adianta ter uma lei educacional considerada como referência, como um modelo mundial, se a situação concreta da educação brasileira faz com que nossos alunos disputem as últimas posições com os alunos dos países subdesenvolvidos da África e da Ásia em qualquer sistema internacinal de avaliação?

Ao meu ver, a progressão continuada contribuiu para que a escola deixasse de ser um espaço de ensino e aprendizagem. Ela não funciona porque a estrutura real de trabalho do professor não permite sua realização. O que parecia uma preocupação de cunho bem humanista se transformou em atitude criminosa, pois muitos alunos passam pela escola e permanecem analfabetos reais ou funcionais.
O espírito da progressão continuada funcionaria se o professor tivesse o tempo e material pedagógico eficiente para preparar e desenvolver atividades diversificadas que atendessem aos reais problemas do aluno de forma muito específica. A progressão funcionaria se o professor pudesse considerar o aluno em sua totalidade, conhecendo-o profundamente sua história, sua condição de vida em família, seus reais problemas emocionais e cognitivos identificado por especialistas e, a partir daí, fazer com que toda estratégia pedagógica visasse a formação integral daquele indivíduo, isto é, uma educação para torná-lo uma pessoa melhor. E isso não se faz por decreto.

Comentários

Rui Prudêncio disse…
Olá Daniel.

Estou interessado em conhecer melhor a História Contemporânea do Brasil. Aqui em Portugal não existe muita história brasileira pós independência. Você pode recomendar-me alguma bibliografia sobre o assunto, especialmente na vertente política e cultural? Obrigado
Thi disse…
Oi Daniel.
Li o seu texto e, como aluno interessado em aprender (uma "espécie" que está cada vez mais em extinção), concordo plenamente. A falta de material adequado, interação professor-aluno, interesse por parte dos alunos e uma legislação de ensino adequado, torna o ambiente em classe ruim e, conseqüentemente, o auno não aprende. Eu gostaria muito que essa situação mudasse e que o Brasil aprendesse melhor... É um país com enorme potencial...
Daniel Giandoso disse…
Oi Thiago!
Penso que esta situação vai mudar. Mas as mudanças na educação demoram a dar resultado. Talves nos próximos 20 anos algo melhore.
Um abraço, Daniel.

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