Aniversário de São Paulo, meu amor

Houve uma época em que São Paulo era cidade pequena, bem mais acolhedora e aconchegante. O trabalho era farto. Tudo estava por construir. No lugar do asfalto e do concreto havia grandes chácaras e sítios que com o tempo foram transformados em bairros e vilas. Houve uma época em que São Paulo tinha vida simples, nada de coisas dramáticas ou grandes tragédias anunciadas em jornais. Era a terra da garoa, terra dos estudantes de Direito, dos poetas românticos que se entregavam aos saraus e à boemia noturna iluminada inicialmente, à luz de gás. Houve uma época em que a vida em São Paulo era calma. Os trilhos dos bondes recortavam toda a cidade. Ah o bonde... que sensação agradável passear de bonde... silencioso, ele deslizava calmamente por entre as ruas, esquina após esquina, sempre com aquela brisa suave no rosto. Nele, amigos se encontravam e desconhecidos se cumprimentavam cortesmente. Houve uma época em que os rios de São Paulo corriam em seu curso natural serpenteando a cidade. Neles as pessoas nadavam, pescavam se divertiam em competições de barco. Esta São Paulo já não existe mais. “São Paulo não podia parar”... e ela cresceu, cresceu tanto para limites cada vez mais distantes. O céu azul deu lugar às chaminés com fumaça negra, exaltada por todos como um sinal de progresso. A vida calma deu lugar à correria. O silêncio e a tranqüilidade deram lugar ao barulho e à poluição. São Paulo é uma cidade que para crescer, destrói a si mesma... casas, monumentos, ruas, prédios, praças, parques, vão abaixo para dar lugar a novas construções numa velocidade assustadora. Por isso, São Paulo é um canteiro em obras, permanente... São Paulo é terra de contrastes. A cidade é conhecida como a capital mundial da gastronomia com inúmeros restaurantes e no entanto, muita gente passa fome nas ruas e nas periferias. São Paulo é terra de grandes negócios, fábricas e lojas de todo mundo. Mas também é terra do comércio informal, dos camelôs que todos os dias fogem dos guardas e fiscais da prefeitura. Em São Paulo, tudo acontece primeiro. É por aqui que as grandes novidades tecnológicas e o mundo da moda entram no Brasil. E no entanto, grande parte da população não tem o que vestir, o que calçar, vive sem água encanada, sem esgoto e energia elétrica. São Paulo é o maior pólo cultural do Brasil. Exposições, shows nacionais e internacionais, grandes espetáculos, cimenas, teatros, museus para todos os bolsos e gostos. E apesar disso, milhares estão excluídos de condições mínimas de educação. Em São Paulo os carros e as motocicletas competem o espaço com as pessoas. Todo motorista se sente piloto. Quando o semáforo abre parece que todos estão em um grande prêmio de F1. E no entanto, os carros ficam mais tempo parados que andando... Já o paulistano, esse é homem de trabalho. Está o tempo todo correndo, anda apressado, não é de muita paciência não... O paulistano pensa o tempo todo em sair da cidade, morar em outro lugar, fugir do trânsito. Na primeira folga ou feriado prolongado parte logo para a praia e pega um imenso engarrafamento para descer a serra. Mas nem se incomoda, já está acostumado... Contudo, quando está fora da cidade, não vê a hora de voltar. Afinal, como cantou Tom Zé: “Porém, com todo defeito, te carrego no meu peito. São, São Paulo quanta dor. São, São Paulo meu amor”.

Comentários

Jenny Horta disse…
São Paulo da grande Rita Lee e de muita gente boa!!!Desejo que esta gente boa e produtiva enriqueça cada vez mais esta metrópole não só de cultura como também de mais cidadania e melhoria na qualidade de vida de seus habitantes de todas as classes sociais.
Parabéns à cidade e a você professor!
Andrea Toledo disse…
Ei, Daniel! Recebi sua mensagem com a proposta de trabalho colaborativo. Será um prazer trocar figurinhas com você. Entre em contato pelo email andrea_bdjip@hotmail.com para conversarmos melhor.
Em tempo....fantástico seu blog.
Abraço
Andrea
Suzana Gutierrez disse…
Oi Daniel

Para te responder aquela questão da músia acabei por fazer uma postagem lá no Vamos Blogar.

abraço
Érika disse…
Esse texto ficou bárbaro, é de sua autoria?
Vou utilizá-lo em meu TCC de especialização.

Postagens mais visitadas deste blog

História em debate: Anarquismo

O calendário da Revolução Francesa

O povo e a ralé em Hannah Arendt

As obrigações do vassalo

Assine a nossa newsletter

Siga-nos nas redes sociais

Style Social Media Buttons