A vida beata



Calma. Não vamos falar sobre a vida da simpática Dona Clotilde com seu coque. Esta postagem não é sobre a vida da beata, mas sobre a vida beata.
Uma vida beata todos a desejam, inclusive você. Beatitude significa Felicidade. Todas as pessoas querem ser felizes. A discordância entre elas começa quando se discute o que é a felicidade e como encontrá-la. Aí cada um fala uma coisa. Felicidade é isso... É feliz quem... O caminho para a felicidade é esse... Para ser feliz você...
Há respostas lindas e até comoventes!
Porém, falar sobre Felicidade é mais um papo filosófico do que uma questão de preferências. Se pensarmos bem, o que acontece mesmo é que ficamos felizes, mas não necessariamente estamos felizes. Aí vem a grande questão: A Felicidade é uma realidade existente ou algo que eu imagino, uma sensação que tenho. Se a Felicidade é uma realidade, ela é permanente e não depende da minha existência; eu posso participar ou não desta realidade. Agora, se a Felicidade é algo subjetivo, que eu imagino ou uma sensação que tenho quando algo acontece, tenho de me entregar a uma insaciável busca por instantes de felicidade através das coisas e das pessoas. No primeiro caso, eu estou feliz independentemente do que aconteça. No segundo caso, eu fico feliz se algumas coisas acontecem.
Um pensador cristão que viveu na Antiguidade Tardia chamado Agostinho (354-430) escreveu coisas interessantíssimas sobre a Felicidade.
Para Santo Agostinho a Felicidade é uma realidade plena a ser buscada. Todos os homens a desejam, por isso constantemente a buscamos nas coisas ou nas pessoas. O problema é que esta Felicidade plena não pode estar no que é finito. De fato, é fácil perceber o quanto estamos cercados de coisas transitórias. Do saquinho de amendoim à paixão avassaladora, tudo acaba. Para Agostinho não é racional colocar a razão de nossa Felicidade em algo que não vai durar por ser finito. Se a minha Felicidade está em algo instável e transitório, eu já sei de antemão que vou deixar de ser Feliz. Ora, como ser Feliz já sabendo que eu vou deixar de ser Feliz quando a razão de minha felicidade não mais existir? Tá vendo como não é simples? As pessoas resolvem isso simplesmente não pensando sobre. Basta curtir o momento, os instantes de felicidade. Basta se sentir feliz e não ser feliz. Só que não ser feliz é ser infeliz. Para Santo Agostinho, quem vive nesta condição é mais miserável que um indigente. Aliás, para ele, a infelicidade é a verdadeira indigência! Portanto, para Agostinho não dá pra se contentar em se sentir feliz. É necessário ser Feliz.
Putz... Como se revolve isso então? O que o homem deve buscar para ser Feliz? Disse Agostinho que é 
necessário que procure um bem permanente, livre das variações da sorte e das vicissitudes da vida. Ora, não podemos adquirir à nossa vontade, tampouco conservar para sempre, aquilo que é perecível e passageiro (...) se alguém quiser ser feliz, deverá procurar um bem permanente, que não lhe possa ser retirado em algum revés de sorte.
Que Bem é esse? O que é imutável por natureza? Para Santo Agostinho esse bem imutável é Deus. Deus é o próprio Ser. Ele é o Ser no qual todas as coisas subsistem. Se Deus mudasse, Ele deixaria de Ser. Isso é um paradoxo! O Ser não pode deixar de ser, já que a ausência de Ser é o Nada! Que loco heim?

Para saber mais sobre Santo Agostinho:




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

História em debate: Anarquismo

O calendário da Revolução Francesa

O povo e a ralé em Hannah Arendt

As obrigações do vassalo

Assine a nossa newsletter

Siga-nos nas redes sociais

Style Social Media Buttons