Alá e a crise americana

Recentemente, assisti novamente o filme de Michael Moore Fahrenheit 9/11. Moore é acusado de ser exagerado nas abordagens que faz (coisa que não concordo). Numa sociedade que acredita em tudo o que é noticiado pela TV (ex. os EUA foram os campeões no quadro de medalhas nas Olimpíadas de Pequim, segundo a NBC ?!?!), Michael Moore caminha na contramão dessa sociedade. Parece que os americanos simplesmente não sabem o que realmente acontece nem no mundo e nem no seu próprio país (bem, nós brasileiros também não). Mas lá parece haver uma alienação, aqui é ignorância mesmo.

O que eu quero dizer é que parece existir um ufanismo tão grande que cega qualquer análise mais crítica sobre o que se passa. Afinal, o mundo não me interessa se tenho minha casa, meu carro e meu cartão de crédito que me faz consumir e "ser feliz". O acelerado crescimento econômico dos EUA no pós-guerra e a sua indiscutível supremacia em todos os setores potencializaram essa visão da sociedade americana cada vez mais voltada sobre si mesma. Ora, se somos fantásticos e não precisamos de ninguém, por que saber o que se passa no mundo? "Meu presidente cuida disso, da mesma forma como cuida de nós, bons cidadãos patriotas..."

Pois é, mas com a crise o mundo de fantasias está desmoronando. Penso na quantidade de americanos atônitos, perplexos... Se o que sempre imperou no cidadão foi a visão de mundo de um Estado poderoso bajulado pela mídia, torna-se difícil a compreensão real dos fatos. Talvez, seja por isso que Michael Moore é ignorado por grande parte da população americana. Ele é um antipatriota!

Mas o que eu queria dizer mesmo é que, Fahrenheit 9/11 hoje prenuncia a crise, ainda que não fale dela. Nele vemos um presidente empossado sem ser eleito, preocupado em atender aos interesses das indústrias petrolíferas, armamentistas e das grandes construtoras às quais está ligado. Vemos um presidente que pensa poder resolver os problemas do mundo gastando bilhões numa guerra sem sentido. Hoje, Bush é um presidente sem poder e sem condições para lidar com os problemas internos, que rapidamente se tornaram problemas do mundo todo. Hoje, ele não é mais poderoso (na verdade nunca foi) e conta os dias para deixar a Casa Branca e voltar logo para o seu rancho. Dá pena...

O que me impressionou muito revendo o filme foram as palavras de uma iraniana que após um bombardeio, enquanto um homem tinha nas mãos uma criança toda ensanguentada e morta, gritar aos prantos: "ALÁ VAI DESTRUIR A CASA DE VOCÊS!!!" Ouvir isso num momento em que os americanos perdem suas casas e passam a viver nas ruas, dá até medo! Que profecia, heim?

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