A Revista Veja e o professor

Eu não queria falar sobre isso, mas não aguento. A tendência elitista da Veja em tratar os acontecimentos beira o terrorismo. E se ela é a maior revista formadora de opinião do Brasil, estamos perdidos...
Dizer que o professor deve ser neutro é tão ingênuo como acreditar na neutralidade da ciência. Esse discurso, a meu ver equivocado, opõe NEUTRALIDADE x DOUTRINAÇÃO. Doutrinação em aula é inaceitável. De fato, nenhum professor deve fazer proselitismo em sala de aula ou qualquer tipo de cooptação político-partidária. Um professor sério de História não faz juízo de valor sobre os acontecimentos passados ou presentes. Ele se esforça para compreender as ações humanas em todas as suas dimensões, matizes, motivações e implicações... Procura problematizar os fatos, questionar com responsabilidade uma dada realidade, seja ela passada ou presente. Ora, tudo isso impede qualquer neutralidade! Esse discurso elitista da neutralidade, a meu ver suprime a crítica. Na verdade, a tal neutralidade pretendida pela Veja consiste em transformar o professor num sujeito que deve apenas ensinar a matéria, assim como um trabalhador deve operar uma máquina. A Veja argumenta que essa é a vontade popular e que a educação democrática e cidadã deve atender a vontade do povo! Que argumento comovente, não?

Se o meu ofício consistir em apenas ensinar as causas da Primeira Guerra Mundial não vejo razão em ser professor. Não que eu não deva falar sobre elas, mas, para saber isso, basta ser alfabetizado e abrir o livro na página certa. Meus alunos não precisam de mim para isso. Minhas ambições são bem maiores e fazem parte da minha ideologia, pois ao contrário do que a Veja insinua, discurso ideológico não é apenas discurso de esquerda, mas todo e qualquer discurso. Não há ser no mundo que não comungue de uma ideologia, desde que ele exercite sua mente e não seja NEUTRO. Ideologia não pode ser uma palavra demonizada tanto por esquerdistas como por elitistas. Ideologia está presente em todo ser que pensa.
Mas a Veja insiste em falar sobre educação e continuar prestando o seu tão costumeiro (des) serviço jornalístico.

Comentários

Anônimo disse…
Qual blog, Daniel? Se for for o Profanomedievo eu tive que excluí-lo porque fui hackeado ao tentar trocar o template. Não tinha precebido que o link dele estava agregado no seu blogue. Quanto The History Movies, esta semana não tive muito tempo para atualizá-lo, estou com muitas atividades no colégio.
Licínio Filho disse…
Olá Professor Daniel,
a revista Veja é uma das maiores manipuladoras de informação a serviço de determinados grupos políticos e agora vem com essa conversa de neutralidade.Logo esta tendenciosa revista? antes de publicar matérias como a referida em sua postagem, os responsáveis deveríam saber que não há uma única e definitiva interpretação dos acontecimentos históricos. Percebo que os autores da matéria n ão conhecem as várias correntes historiográficas que permitem aos professores de história extrapolarem os livros didáticos, buscando apresentar aos seus alunos as várias interpretações de um mesmo acontecimento.
Não somos repetidores de conhecimento,somos educadores que se comprometem em dispertar um olhar crítico sobre as sociedades através do tempo.
O esclarecimento histórico torna as pessoas mais politizadas e nós não devemos fugir desta responsabilidade se desejarmos construir um mundo melhor.
Abraço.
Unknown disse…
beleza, gostei...
Evandro disse…
Como assim a ciência não é neutra. Concordo que cientistas não o são, mas as descobertas científicas são as mesmas independente da ideologia do cientista.E=MC² nos EUA, na China na Rússia, no Irã e em Cuba.Não entendo como uma teoria científica não pode ser neutra.

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