Professores de Serra...

- É Serra... alguma coisa...
- Serra Leoa?
- Não, é outro bicho... mas vou me lembrar. É que os professores deste lugar possuem um sonho comum.
- Qual é?
- Todos sonham em se exonerar! Os que podem e conseguem saem pulando de alegria quando vêem o nome no D.O. Dão um grito, um tchau coletivo e saem correndo da escola como loucos deixando para traz todos os objetos da infelicidade dentro daquele armário enferrujado... Jamais voltam, nem passam pela rua. Tornam-se livres...
- Nossa! Que lugar é esse?
- Serra Macaco, Serra Girafa... Não, não... é nome de pássaro.
- Serra Papagaio?
- Não... mas vou me lembrar. Esses professores ganham pouco e por isso trabalham em várias escolas... mal conhece o nome dos alunos... Eles não têm tempo, dinheiro e nem tranqüilidade para investir na sua formação ou no preparo das aulas. Geralmente, não possuem material diversificado e atualizado para trabalhar. E quando aparece alguma coisa na escola ou é escasso ou nem é analisado pelo professor que vive correndo de um lado para o outro.
- Não é possível! Esse lugar não existe!!!
- Existe sim! É Serra... Tico-Tico, Sabiá...
- Urubu?
- Não... mas vou me lembrar. Todos os dias eles são desrespeitados. Sofrem violência moral e violência física por parte dos alunos. Então, nestas condições, ou deixam de lutar e se acomodam (pra não morrer ou pra não ficar louco) ou então, deixam de ser professores (se ainda possuem o mínimo de dignidade e de amor próprio) e vão fazer outra coisa na vida (os que podem, evidentemente).
- E assim realizam o sonho da exoneração?
- Sim! Mas esse é um número seleto de privilegiados... A maioria permanece! Estes, (na melhor das hipóteses) ficam sem ânimo trabalhando no limite físico e emocional, contando quantos dias faltam para o próximo feriado. (Na pior das hipóteses) os que permanecem nestas condições são afastados com problemas de saúde, são readaptados, ficam realmente doentes, estressados, com diagnóstico de depressão e de síndrome do pânico. Não podem ver alunos que começam a tremer, coitados...
- Nossa! Dar aula adoece?
- E como... Ah! Lembrei!!! O nome desse lugar é SERRA TUCANO!!! Fica bem próximo... É quase alí...

Comentários

Anônimo disse…
É Daniel, conheço muito bem essa história dos professores de Serra. Só para relatar, já desisti faz tempo de lecionar no Estado. Depois que vi dois alunos de 13 anos se pegando de faca na classe, e de ter um tio, professor de química, que ficou afastado por dois anos da sala-de-aula porque um aluno lhe fez ameaças de morte, resolvi sair do Estado. Acima de ser professor, sou sobretudo trabalhador. Devemos para com essa utopia besta de que professor é em primeiro lugar professor e, num segundo plano, trabalhador. Somos trabalhadores e devemos exigir condições adequadas de trabalho. O tucanato faz a ##### e somos nós que temos dever de limpar?
Daniel Giandoso disse…
Pois é professor. O Estado ao invés de conquistar expulsa os melhores profissionais, já que esses são lançados nas piores condições de trabalho. Aja idealismo para segurar a barra... Eu estou a 4 anos no Estado e rezo todos os dias para ter ânimo para ir trabalhar. Só não saio porque tenho dois filhos pequenos... e com o salário miserável escolho que conta vou pagar no mês... Bom a vantagem é que sem ele eu não precisaria escolher conta nenhuma, todas não seriam pagas...
Obrigado pela visita.
Anônimo disse…
Valeu pela resposta, Daniel. Apesar de ainda não ter filhos, não me arrependo de ter optado pelo ensino particular. Nunca fiquei sem emprego e conquistei uma boa rede de relações caso isso ocorra. Isso não significa que não existam colégios picaretas por aí. Mas na medida do possível até que dei sorte por onde passei. Abraço.
crica disse…
Daniel,
Tô na fila da exoneração.
A identificação com texto é tanta que gostaria de saber se posso traficá-lo para o meu Blog.

Abraços
Cris/ Crica
Daniel Giandoso disse…
Oi Cris!

Fique à vontade em utilizar o texto.
Um abraço, Daniel.

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