O apito do trem

Créditos da imagem: https://www.estacoesferroviarias.com.br/m/fotos/mguacu961.jpg

Semana passada assisti a um documentário na TV Cultura sobre o abandono das ferrovias no Estado de São Paulo. Muito triste... Tive muitas lembranças. No interior, eu morava próximo a Ferrovia Baixa Mogiana. De casa, eu escutava o apito do trem e subia em uma mureta para vê-lo passar. O trem mais bonito era o de passageiros. Os seus vagões eram azuis e nós o chamávamos de "bandeirante".
Quando criança, quase todos os dias no fim da tarde, minha mãe ou meu avô me levava para ver o trem e fazer tchau para o maquinista. Eu ficava contando os vagões... como não querer ser maquinista? Aquilo despertava tanto encantamento em mim! O tamanho, o barulho, o tremer do chão. Como era bom se equilibrar nos trilhos ou ver os vagões sendo manobrados no pátio .
Lembro-me da imensa ponte sobre o Rio Mogi Guaçu, das viagens que fizemos até São Simão, do ficar sentado no banco da estação, do túnel, do chacoalhar do vagão, do senhor de bigode e de quepe vendendo salgados...

Em 1996 (mesmo ano da foto), quando eu estava no Exército, tive de fazer um estudo sobre a ferrovia para defesa de pontos sensíveis da cidade. A farda de soldado abre caminhos... Fui e conversei com o funcionário da Estação. Ele, com muita paixão, me explicou tudo sobre o funcionamento do sistema ferroviário. Aquele lugar era tão bonito e agradável. Um clima de paz e de silêncio apenas quebrado com a passagem do trem.

Quando eu estava na faculdade estudando História, retornei para visitar a estação e fiquei chocado com o que vi. Depois da privatização tudo se acabou, foi desativado e a Estação logo se tornou alvo de vandalismo. Tudo arrombado, quebrado, incendiado. Era possível ver os documentos pelo chão, anotações diversas, tudo destruído. Que amargura senti...

Anos depois, estando eu na fila de um banco, vi um senhor de rosto sofrido e enrugado... Era aquele funcionário da estação, que ao acolher e explicar tudo ao jovem soldado, deu um imenso presente para a criança que fazia tchau para o maquinista.