A Belle Époque e a Revolução Tecno-científica



Chamamos de Belle Époque o período de 43 anos entre o final da Guerra Franco-Prussiana (1871) e o início da 1ª Guerra Mundial (1914). Este período de paz possibilitou um espírito de harmonia social e de grande euforia. A ausência de guerras na Europa e, conseqüentemente, a atmosfera de tranqüilidade, levaram os europeus a desfrutar cada vez mais da vida, através de divertimentos como circos, casas de espetáculos (music-hall) e o cinema.

Tudo era festa. Havia uma grande procura por entretenimentos sensacionais e extraordinários; qualquer coisa que rompesse a barreira do cotidiano comportado das pessoas era buscada. Assim, casas de espetáculos como o Moulin Rouge em Paris eram muito freqüentadas. O Moulin Rouge era uma mistura de prostíbulo, circo com acrobatas e danças orientais, artistas que cantavam, recitavam poemas e contavam piadas... Havia uma interação total do público com os espetáculos. As pessoas comiam, bebiam, falavam, gritavam, vaiavam, aplaudiam, atuavam com os artistas, enfim, tudo muito espontâneo e sem regras de comportamento. Muito mais que um local de lazer, o music-hall oferecia aos freqüentadores uma liberdade de comportamento que não era possível no dia-a-dia urbano. Nele, também se realizavam comentários sobre política e sobre a sociedade parisiense. Geralmente, todas os shows eram apresentados de forma extravagante ou bizarra. Desta maneira, as casas de espetáculos retratavam um clima presente em grande parte da população européia: a busca pela boa vida e pelo desfrute das comodidades do avanço da ciência.

Toda essa euforia era alimentada pela Revolução Tecno-científica que ocorreu a partir de 1870. Novos campos industriais foram gerados como a indústria química, farmacêutica, “eletrotécnica” e petrolífera. Esses avanços tecnológicos não apenas aumentaram a produção industrial, mas a diversificou, colocando no mercado consumidor uma série de invenções dentre as quais, muitas ainda fazem parte do nosso cotidiano. Segundo o historiador Nicolau Sevcenko, foram elas: o telégrafo, o telefone, a iluminação elétrica, os eletrodomésticos, a fotografia, o cinema, o rádio, a televisão, os arranha-céus, os elevadores, escadas rolantes, os sistemas metroviários, parques de diversões elétricas, as roda-gigantes, as montanhas-russas, a seringa hipodérmica, a anestesia, a penicilina, estetoscópio, medidor de pressão arterial, os processos de pasteurização e esterilização, os adubos artificiais, os vasos sanitários com descarga automática, o papel higiênico, a escova de dentes, o sabão em pó, os refrigerantes gasosos, o fogão a gás, o aquecedor elétrico, o refrigerador, o sorvete, as comidas enlatadas, as cervejas engarrafadas, a Coca-Cola, a aspirina, o sonrisal... Todas essas transformações ocorridas em um curto intervalo de tempo com uma velocidade assustadora invadiram o cotidiano das pessoas e provocaram mudanças de hábitos. Coisas jamais vistas ou pensadas passaram a fazer parte do dia-a-dia dos centros urbanos. O mundo andava mais rápido, já que avanços técnicos permitiram uma modernização nos meios de transporte com o desenvolvimento de trens mais velozes, a criação do motor a combustão que seria usado nos carros e caminhões, a conquista do ar através do avião e os suntuosos transatlânticos que aproximavam a Europa da América.

A industrialização ampliou os postos de trabalho e neste período houve um crescimento da população européia, já que a medicina passou a combater com mais eficácia a mortalidade infantil e permitiu o aumento da expectativa de vida das pessoas.

É claro que quem desfrutou de todos estes benefícios tecnológicos e de todos os avanços ocorridos durante a Belle Époque foi a elite. A maior parte da população européia permaneceu a margem deste processo. Na verdade, é possível dizer que a exploração empreendida aos trabalhadores que possibilitou grande parte desses avanços.
Contudo, esta euforia, própria da Belle Époque, levou os inúmeros europeus a acreditarem no cientificismo e no positivismo, que nada mais eram do que a crença de que o mundo caminhava sempre para o progresso, ou seja, caminhava sempre para um estágio mais evoluído de desenvolvimento econômico e social. A ciência seria capaz de resolver todos os males da sociedade e de permitir uma vida plenamente feliz. Ela libertaria o homem de suas superstições religiosas e faria com que todos gozassem da tecnologia. Essa crença no cientificismo seria completamente abalada com a 1ª Guerra Mundial. Após os conflitos ficou provado que o avanço tecnológico não trazia somente benefícios para a vida das pessoas, mas poderia destruir grande parte da humanidade.

Para saber sobre a Belle Époque no Brasil:

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